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Ascendance of a Bookworm - Cap 2

Uma vida nova
O som de algo batendo no chão ou uma mesa arrastando me acordou. Onde quer que eu estivesse dormindo começou a balançar. Cada oscilação espalhava dores pelo meu crânio como se eu estivesse sendo espancada.
Haviam vibrações e barulhos irritantes num ritmo constante, me impedindo de dormir.
Silêncio, por favor!
Eu permaneci acordada, dolorosamente consciente da vibração reverberando dentro da minha cabeça. Eu tapei meus ouvidos, esperando que o som desvanecesse. Ao me mover, me senti estranha, como se meu corpo não fizesse exatamente o que eu mandasse. Minhas juntas estavam doloridas e eu me sentia febril, como se eu estivesse gripada.
Eu precisava dos meus óculos se quisesse saber o que estava acontecendo. Eu tateei ao redor com os olhos fechados. Meu corpo todo estava um pouco dormente e lerdo. Enquanto me contorcia escutei um farfalhar de grama ou papel.
''Que som foi esse?''
A voz que saiu da minha boca era infantil e aguda, talvez porque eu estivesse enferma. Embora eu quissese apenas dormir, não podia ignorar essa situação estranha em minha volta. Lentamente abri meus olhos, minha visão estava melhor do que o normal.
A primeira coisa que notei foi um teto, outrora branco, mas no momento estava sujo de fuligem. Eu via acima uma enorme viga onde uma aranha tecia sua rede. não me lembrava de estar num quarto assim.
Olhando em volta percebi que a arquitetura do local era completamente diferente da do Japão onde eu cresci, na verdade, assemelhava-se ao estilo Ocidental. Alem disso, não era uma construção moderna, mas algo bem rústico. A cama que eu estou deitada não tem colchão, ao invés disso, parecia um travesseiro feito de um material espinhoso. A roupa que me cobre tem um cheiro estranho. Sinto coceira pelo meu corpo, como se eu estivesse sendo picada.
''Espere um pouco...''
Minha memória mais recente é de ser esmagada por uma montanha de livros, e não me lembro de ter sido resgatada, não acho que um hospital japonês colocaria seu paciente em uma situação tão precária. Lentamente coloquei minha mão em minha cabeça, e senti que ela era pequena como a de uma criança. Finalmente percebendo minha situação, minha boca se secou.
É possível que eu tenha reencarnado, talvez Deus tenha se recordado de mim e me concebeu meu último desejo, me dando uma nova vida. Isso é incompreensível, preciso conhecer melhor o mundo onde me encontro agora. Levantei meu corpo febril, meu cabelo encharcado de suor pendia para o lado, mas não dei muita atenção para isso. Haviam outras camas e algumas caixas, mas em nenhuma havia livros.
''Não há...livros...''
A única porta do cômodo se abriu, o barulho que reverberava pela minha cabeça foi substituído por passos. Eu preciso colocar meus pensamentos no lugar. Baseado no teto, nas vigas e nas mobílias, eu estou em algum país europeu, embora nada moderna, teria eu viajado para o passado. Se eu tivesse mais informações poderia planejar minhas ações.
Uma mulher apareceu na porta, provavelmente escutou eu me mexendo e falando sozinha, ela usava uma bandana triangular e aparentava estar perto dos 30 anos de idade, julgando pelo seu rosto que um dia já brilhou. Ela era bonita, mas a sujeira ocultava sua beleza, se ela se lavasse provavelmente estaria decente, é triste ver a situação dela no momento. 
A mulher começou a falar em alguma língua desconhecida
O som de sua voz despertou memórias que alcançaram meu consciente, e comecei a chorar. Num piscar de olhos, as memórias desta criança começaram a surgir na minha cabeça, a pressão causada fez minha essa pequena cabeça quase explodir, e então a agarrei.
''Maine, você está bem? Já faz um tempo que não acordava, estava começando a me preocupar.''
Mãe?
Algumas memórias vieram como bolhas para a superfície, a mulher que veio gentilmente ver se eu estava bem, é minha mãe, e meu nome é Main. De repente comecei a entender essa língua desconhecida. Eu gostaria de poder receber essas informações quando estivesse um pouco melhor, não é como se eu fosse aceitar de uma hora para outra que essa mulher é minha mãe.
''Parece que você teve uma enxaqueca'' Disse ela.
Ela tocou com seus dedos minha testa, eles estavam amarelos e azuis, será que ela trabalha com pintura? Eu não queria que essa minha suposta mãe me tocasse então me afastei e me enterrei na cama humilde cama, fechando os olhos.
''Minha cabeça ainda dói, quero dormir'' Eu disse
''Descanse minha querida''.
Então ela se levantou e saiu do quarto. Comecei a pensar profundamente, com tudo isso acontecendo não tem como eu voltara a dormir calmamente.
''Eu não estou delirando, eu morri, certo?''
A imagem da minha mãe veio a minha cabeça, e silenciosamente me desculpei por nunca pode-la ver novamente. Enxuguei algumas lágrimas.
''Desculpe mãe...'' sussurrei para mim mesma.
Relutantemente, comecei a investigar as memórias da criança, Maine. Suas últimas memórias são de dor, talvez ela tenha morrido e eu possesei seu corpo.
Já que esse é o caso, preciso ir mais a fundo nas memórias de Maine para aprender mais sobre minha situação, caso contrário a minha nova família pode suspeitar. Infelizmente por Maine ainda ser uma criança, sua capacidade cognitiva ainda está em desenvolvimento, lhe falta muito vocabulário e raciocínio crítico, a maioria das suas memórias são ambíguas ou enigmáticas.
Bem, a família de Maine consiste de quatro pessoas, sua mãe, sua irmã mais velha e seu pai, que é algum tipo de soldado.
O mais importante, eu não estou na Terra. Os cabelos da mãe de Maine eram naturalmente verdes, da cor de esmeraldas e seu pai e irmã têm cabelo azul, algo incomum no mundo normal. A propósito, não há nenhum espelho nesta casa, e não consigo encontrar uma imagem clara de como eu me pareço, além da cor do cabelo. Baseado nos membros da família, não devo ser muito feia, porém, sem dúvidas, estou imunda.
''Preciso de tomar um banho, Há banheiro aqui ao menos?''
Minha aparência não é a minha maior preocupação no momento , e sim minha condição de vida. Me parece que reencarnei numa família bem miserável.  A minha roupa é bastante surrada e desgastada, isto é muito cruel, pensei que Maine sofria algum tipo de abuso, mas as roupas de sua mãe e irmã eram andrajos semelhantes. Esse é o padrão da minha nova família, as roupas do meu pai são boas, algum uniforme que ele recebera a anos atrás.
As paredes são feitas de tijolo, e eu posso escutar passos e vozes das escadas e dos vizinhos, talvez fosse algum complexo residencial ou um prédio.
Não seria mais justo eu ter reencarnado na nobreza? Uma vida sem dificuldades? Embora eu tenha tido uma vida comum no Japão, nem se compara com o que estou enfrentando agora.
''Queria ter um livro ao meu lado neste momento, eles sempre ajudam a me acalmar.''
Não importa o quão difícil seja as adversidades, eu posso suportá-las tendo um livro em mão. Coloquei um dedo em minha têmpora e concentrada, procurei por memórias de livros, onde nesta casa estaria a estante de livros?
''Maine, você acordou?''  Uma voz súbitamente interviu. Uma garota de aproximadamente sete ou oito anos, veio em passos leves. De acordo com minhas memórias essa é Tory, assim como sua mãe, ela está toda suja, ela deveria se limpar, esta desperdiçando um belo rosto. 
Havia algo mais importante para se preocupar, então perguntei para Tory
''Tory, você poderia me trazer um livro?''
Eu estou um pouco doente, mas definitivamente consigo ler, conhecer os livros de uma outra dimensão é minha maior prioridade no momento.
Tory perguntou confusa: '' O que é um livro?''
''É uma coisa com palavras escritas''
''Maine, do que você está falando?''
Acredito que acidentalmente usei alguma palavra japonesa no lugar, por mais que eu tentasse explicar, Tory permanecia sem entender. Preciso aumentar meu vocabulário, rápido.
Primeiramente preciso focar em escutar cuidadosamente todos ao meu redor, e aos poucos, ir memorizando as palavras. Na teoria, para uma criança na idade da Maine, aprender vocabulário deve ser bem fácil.
''Você está bem? Deve ser a febre...'' Disse Tory. Ela levou sua mão até minha testa, para checar minha temperatura.
''Eu estou doente, você não ficaria também?'' Disse eu, na verdade queria evitar que as mãos sujas dela tocassem em mim, então usei esta técnica.
''Acho que sim, então até mais!''
Primeiramente, se eu quiser ler, preciso garantir estar saudável, de acordo com as memórias, Maine é uma criança de saúde bastante frágil. Segundo, preciso garantir um ambiente higiênico, contudo essa família é bastante pobre e não existe o conceito de limpeza nessa casa miserável. Preciso ser positiva, não posso desperdiçar essa reencarnação, provavelmente existem livros aqui que eu nunca teria a oportunidade de ler na Terra.
Mas primeiro preciso cuidar do meu físico, a escuridão tomou minha visão e então coloquei-me ao leito.
Escutei batidas na porta e vozes
''Estou em casa!''
''Bem vindo de volta pai!''
Eu não quero saber de nada, só quero ler um livro.

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